segunda-feira, 2 de agosto de 2010

Diário do Leitor

Hoje a seção Diário do Leitor traz uma participação especial, um grande amigo meu que surgiu na internet, e apesar de nossos tempos não deixar um maior contato, espero que seja uma amizade bem duradoura. Saiba mais dele clicando aqui.

Agora chega de papo e vamos ao texto do E.:



"Primeiramente, gostaria de parabenizar aos grandes amigos R. e L. pelo blog. Como muitos, leio o blog e fico muito feliz com os diários do casal e as informações sempre relevantes que o R. nos passa. E ainda fiquei muito surpreso e grato com o convite feito para que nós, leitores do blog, pudéssemos compartilhar nossos medos, angústias, alegrias e, é claro, nossa biografia!

Gostaria então de relatar algo que recentemente aconteceu comigo. Na verdade, não foi um fato em si, e sim, um sentimento que me tomou e acredito que já deve ter tomado muitos gays.

Mudei-me para BH após algum tempo trabalhando no interior de Minas. Trabalhar em cidades de 8, 10 mil habitantes requer uma conduta estritamente profissional, em que não cabe detalhes da sua vida pessoal nem mesmo nos momentos de lazer no cafezinho. E foi assim: após 1,5 anos trabalhando no interior, apenas uma colega de trabalho soube que eu era gay e conheceu o meu namorado. Transferi-me então para a capital para continuar meus estudos.

Passei a integrar então uma equipe de trabalho com sete pessoas no total. Quatro mulheres e três homens. As mulheres ou eram noivas ou eram casadas. Dos homens, somente eu não era casado. Meus dois outros colegas de trabalho exibiam duas grandes alianças douradas que simbolizavam sólidos casamentos. Porém, qual foi minha surpresa, quando durante a primeira confraternização da equipe, um dos meus colegas chegou acompanhado pelo seu marido. Casado há oito anos, esse colega nos confidenciou que há muito havia se assumido gay e “casado” com seu esposo. Naquele momento fui tomado por um estranho sentimento de maioria. Afinal, dos três homens daquela turma, dois eram gays, e acreditei que por isso, nada me atingiria. Poderia ser eu mesmo sempre, que a tal maioria, como acontece em todas as sociedades democráticas, me defenderia de qualquer situação, até mesmo constrangedora. Na verdade, criou-se uma empatia e confidencialidade em toda turma e a questão da sexualidade nunca foi levada em consideração quando, por exemplo, algum engano ocorria durante as tarefas. O fato de ser gay, não foi determinante em nenhuma das decisões. A sexualidade era pano de fundo somente para conversa de boteco. Tudo bem que ser maioria me deu coragem para não me esconder como fazia quando morava em uma cidade do interior. Carinhos em público no meu namorado, demonstrações de afeto dentro do carro, enquanto aguardava o semáforo abrir. Nada agressivo. Tudo isso possível ao sentimento de fazer parte de uma dita maioria.

Um tempo depois, porém, este mesmo colega, que me possibilitou ter esse sentimento “estranho”, por motivos pessoais, pediu transferência para outra instituição. Levei uma “rasteira”. Depois de um tempo como maioria voltei a ser minoria. Sim, porque na nossa sociedade ser gay é sempre ser minoria. E havendo agora um heterossexual e eu, homossexual, sempre me tratariam como a minoria, mesmo estando um a um. Pelo menos foi o que eu pensei no primeiro momento. Foi esse sentimento que me consumiu de forma totalmente ingênua e infantil.

Um tempo depois me re-encontrei com esse colega. E confidenciei a ele essa mutação de sensações. Mais vivido, ele friamente me analisou e disse: “Não acho que ser maioria ou ser minoria esteja em questão. Você não foi aceito por que eu também sou gay. Eu sou muito diferente de você. Você foi aceito por competência. Assim como eu. Você se deu muito pouco crédito...” Fui para casa e fiquei pensando nessas palavras. Conversei depois com alguns desses colegas – com aqueles com quem tinha mais intimidade e todos foram unânimes em afirmar que nunca consideraram minha sexualidade em qualquer questão relativa ao nosso convívio. E fui para casa feliz. Sem me importar se era maioria ou minoria. Afinal, depois de ter estudado, formado, trabalhar para ganhar meu próprio dinheiro, não deveria levar em consideração a minha sexualidade para o meu sucesso profissional. Minha sexualidade não pode e não deveria interferir na minha vida profissional. Afinal, eu não assumo minha posição profissional por ser gay. Eu sou gay e trabalho...

E foi assim que virei mais uma página da minha vida. E solidifiquei mais um alicerce. E para não fugir dos clichês, concluo com a mensagem de um filme do qual sou muito fã (lembra dessa R.?): não importa quem você é, é o que você faz que o define. Levo isso sempre na minha vida – pessoal ou profissional. Tanto faz..."

Valeu pelo texto, amigo.

Ass.: R

Um comentário:

Anônimo disse...

Oi R. Oi L. Fiquei mto feliz de ter tido o texto publicado. Espero poder contribuir sempre! Parabéns sempre pelo alto nível do blog! Abraços aos dois! Espero revê-los em breve!

E!

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