sexta-feira, 24 de junho de 2011

Diário do Leitor


E trazemos mais uma colaboração de nossos ilustres leitores aqui no blog, o leitor Felipe resolveu falar de sua homossexualidade através de um belo texto. Dêem uma olhada:

Sobre Ser Quem Se É.

Não me lembro da primeira vez que nasci.
Não me lembro se foi bonito, se foi intenso, se foi um milagre. Sei que havia sangue e lágrimas, e que a partir dali eu já morria.
Mas, de qualquer maneira, lembro da segunda vez que nasci, e me lembro bem, com detalhes: sombras, luzes, gosto, cores e som.
Lembro da minha respiração no espelho. Lembro do meu medo - como na infância – do escuro e da solidão.

E acho que é sempre assim quando nascemos. O medo inevitável do que não sabemos, e da vida que teremos que aprender a conquistar – e aprender que é conquistável.

Em minha primeira vida estive grávido de mim mesmo, sem saber.
Dos sonhos que ainda não existiam, ou que resistiam sem mim.
Vivia a plenitude de estar quase absolutamente morto: Aprisionado em um corpo pequeno e frágil, nesta cápsula, nesta casca, nesta máscara em que juravam ver o meu rosto.

Revelar-me foi [ é ] uma atitude corajosa.
Cada dia correndo o risco da solidão, expondo-me ao caráter sádico dos espíritos humanos, ao prejulgamento e aos estereótipos.

Mas eu sou, sabe. Nesta vida mais que na outra: Acho que respiro outro ar agora, vejo em novos espectros de cores, e ando em estranhamento.
Passo após passo, surpreso com as surpresas.
Estranho todos eles. Os estranhos que me vêem sem me ver.

. . .

Naquele dia, contei meu segredo.
Chorei copiosamente e morri um pouco antes de renascer.
No banheiro, enxuguei na camisa meus olhos vermelhos, e vi o reflexo no espelho.
Eu me vi, pela primeira vez.

A maioria das pessoas nasce uma vez apenas, mas eu nasci duas.
Uma vez foi sorte, na outra escolha. Ambas destino.

Eu nasci naquele dia, depois do amor e da dor, e já não tinha nada a ver com isso – com quem se ama ou de que forma o faz – era apenas sobre ser o que se é.

E foi intenso e suave, como presenciar um milagre – só porque era a verdade.”

Maravilhoso o texto, gostei muito. E espero mais.

Quer escrever também o seu texto, mande e-mail para:
digaxisparaopassarinho@gmail.com ou 26raylight@gmail.com

O texto deve estar no corpo do e-mail, não em anexo.

Ass.: R

Um comentário:

Anônimo disse...

há tempos que eu não lia um texto tão lindo e verdadeiro...parabéns!

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