terça-feira, 24 de março de 2009

O Outro Diário de Bordo 2: curiosidades e descobertas


Pode até ser que eu esteja errado, mas duvido que haja algum homem no universo, seja heterossexual ou homossexual, que não tenha participado alguma vez dos infames troca-troca entre molecadas na pré-adolescência. Todos passam por isso. E no meu caso, o ocorrido, por mais inocente que tenha sido, foi imprescindível para que eu entendesse o que sou, o que me agrada e o que não me agrada. E realmente foi bastante inocente - não podemos nos esquecer que, há quinze anos atrás, a Internet era uma utopia e os jovens não tinham acesso tão fácil e rápido a qualquer espécie de informação.

A rua em que moro sempre foi bem tranqüila, daquelas em que as crianças podem brincar sozinhas até a noite, e eu tinha amizade com todos os garotos da minha faixa etária. Andávamos sempre juntos e esta fase compartilhei com todos eles. Tinham, entretanto, três garotos com a minha mesma idade (na época 13, hoje 28) que eram mais próximos, e foi com estes três que as experiências tornaram-se mais fortes. Quando estávamos somente nós quatro, com certeza não saía coisa boa! Hahaha.

O garoto A. foi o primeiro. Um dia ficamos sozinhos, e no meio de uma sessão de masturbação, decidimos que seria legal um bater para o outro (!). A partir daí, sempre dávamos um jeitinho de nos separar da turma para ficarmos sozinhos e fazer as coisas ao nosso modo, que era muito mais divertido. Em seguida, começaram a participar das brincadeiras o garoto B., vizinho de porta como o A. e meu melhor amigo, e o garoto C., primo do B. que morava em outra cidade mas passava as férias sempre conosco.

Com eles, experimentei as primeiras emoções e uma leve idéia da complexidade que é envolver-se sexualmente com alguém - nesta época aprendi o que é sexo oral, quais eram os pontos da anatomia mais sensíveis ao toque, qual era a sensação de tocar a nudez de uma pessoa do mesmo sexo. E tive a certeza do que eu sou nestes momentos, já que eu era visivelmente o mais empolgado, na falta de uma palavra melhor, quando surgia a possibilidade de nos reunirmos para dar voz às nossas curiosidades naturais.

Nesta época, também senti traços do que hoje digo que foi a primeira vez em que senti algo próximo a amor. Rolava uma taquicardia violenta quando o garoto B., o mais boa-pinta da turminha, estava presente nas brincadeiras, e sentia um pouco de raiva (que hoje sei que na verdade era ciúmes) quando ele, em meio aos nossos joguinhos sexuais, aproximava-se mais dos outros meninos. Claro que nunca aconteceu nada além disso. Não tínhamos maturidade suficiente para compreender o que se passava em nossas mentes e, de qualquer forma, aquilo tudo para nós era somente uma grande brincadeira. Por incrível que pareça, não havia malícia.

Estes eventos duraram até os nossos 14 anos, quando a turminha começou a se dispersar gradativamente, por coisas da vida: um se mudou, o outro foi estudar em outra cidade... Ainda tenho contato com meus três amigos mais próximos, e dos três, fui o único a me descobrir homossexual. O garoto A. mora em uma cidade vizinha com uma namorada, mas sempre está por aqui e conversamos bastante; o garoto B., o tal amor platônico, engravidou uma menina e, mais tarde, amigou-se com outra que também teve um filho seu; e o garoto C. não aparece mais na rua, mas sempre nos vemos pois trabalha no mesmo prédio que eu. Ele não é casado, mas tem três filhos, cada um de uma mãe diferente (!!).

Ainda hoje, quando nos encontramos, comentamos sobre o que compartilhamos no passado e damos boas gargalhadas - à exceção do garoto C., que não pode nem ouvir falar disso que já quer sair esmurrando meio mundo (mesmo sendo, ironicamente, o mais "passivo" nos nossos joguinhos e, conseqüentemente, aquele que eu poderia jurar que se descobriria gay no futuro). Curiosamente, um dos garotos da rua, que NUNCA participou de qualquer intimidade com o resto da garotada e para nós não passava de um menino muito esnobe, mais tarde confessou seu homossexualismo a mim e tornou-se o pivô de um momento bem traumático de minha vida no que diz respeito a relacionamento afetivo.

Mas isto é assunto para um capítulo futuro. Até a próxima! ;-)

Ass.: L

Um comentário:

Anônimo disse...

Aprendi muito

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